Por Nina Lemos
“São tempos estranhos, esses que vivemos”,
minha amiga, que como eu, “vive” na internet, faz esse comentário depois de me
dar a noticia da morte da blogueira Nara Almeida. “Coitada!”, nós lamentamos,
sinceramente comovidas. E tentamos entender a comoção causada pela morte da
moça. Não conhecíamos Nara, como milhares de pessoas, éramos suas seguidoras no
Instagram.
Nara
Almeida, que morreu na madrugada de segunda-feira, era uma menina de 24 anos
que lutava contra um agressivo câncer de estômago desde o ano passado. Antes de
descobrir a doença, ela era mais uma menina a postar fotos de looks do dia e
seu estilo de vida. Depois, com a descoberta da doença, passou, também a mostrar
cada detalhe de sua luta pelas redes sociais. Ela fazia foto maquiada,
arrumada, mas exibindo uma sonda, que precisava para se alimentar. Gravava
vídeos contando detalhes do tratamento e também de sua diversão com os amigos e
o namorado, apesar do sofrimento em que vivia.
E também mensagens de incentivo para os
seguidores, falando, por exemplo, para que eles aproveitassem as coisas
pequenas da vida, tipo tomar um copo d’água, que ela, internada, não podia mais.
Nara
ganhou fãs no Brasil inteiro. Virou uma celebridade da internet, com mais de 4
milhões de seguidores no Instagram. A morte de Nara foi parar nos noticiários
de TV e foi o tópico mais comentado no Twitter durante toda a segunda feira. Na
terça, enquanto escrevia esse texto, seu nome ainda estava entre os assuntos
mais falados e sua morte era noticiada em sites de todo o mundo. Personalidades
como Tata Werneck e políticos como Manuela D’Ávilla lamentaram a sua morte e
disseram também serem suas seguidores. Tata foi uma das famosas a dizer que se
comunicava com ela por mensagens.
Sim, a morte de Nara gerou uma comoção,
como se ela fosse uma pessoa de verdade. Mas, espera, ela não era? Era, sim! Os
conceitos de fama mudaram, assim como as paredes que separam a vida virtual da
real. Os mais jovens já estão ligados disso. Para a maioria deles, isso é
apenas normal. Nós, trintões,
quarentões, cinquentões… ou aceitamos e tentamos entender isso ou vamos perder
o bonde. Vivemos em uma época em que as pessoas são famosas por aparecerem na
internet e têm fãs. E sim, simpatia e amizade virtuais podem ser coisas reais.
Rede
social e cidade do interior
Falo
por mim, que já sofri de verdade com morte de pessoas que conhecia do Twitter,
algumas delas eu nunca tinha nem trocado uma palavra pela rede, mas as lia,
gostava delas Já torci por pessoas que iriam fazer um procedimento de saúde
difícil, pedi notícias, quis saber como estavam. Sim, eu gosto de gente que eu
nunca vi. E quem não é assim, em tempos de redes sociais?
A internet e nossas bolhas parecem cidades
do interior. Quem, como eu, cresceu em uma cidade pequena, sabe que sempre
existe uma notícia ruim, a prima do fulano da padaria que está doente, o irmão
da mulher do filho do João do bar que sofreu uma tragédia e por aí vai. A
impressão é de que sempre tem alguém doente ou morrendo. Nas redes, temos
contato com um grupo imenso de pessoas. E vez ou outra uma notícia dessas
chega: “sabia que o fulano do Twitter morreu?”
E essa notícia sempre triste (em níveis
diferentes, se somos amigos de anos de vida real, carne e osso da pessoa,
claro), mas sempre é triste. #RIPNARA.
Fonte:https://ninalemos.blogosfera.uol.com.br/2018/05/23/por-que-a-morte-da-blogueira-nara-almeida-causou-tanta-comocao/
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