Amar várias pessoas ao
mesmo tempo pode vir a ser um comportamento comum
Regina Navarro Lins
Ilustração: Lumi Mae
Comentando o “Se eu fosse você”
A questão da semana é o casodo
internauta, que tem duas namoradas e uma sabe da outra. A sua intenção é levar
ambas para a cama ao mesmo tempo. Pergunta se isso é um distúrbio.
Amar várias pessoas
ao mesmo tempo, práticar sexo a três….Desde os anos 60, assistimos a
comportamentos amorosos e sexuais impensáveis em outras épocas. Mas essa
história tem um ponto de partida.
Após a Segunda
Guerra, com a destruição de Hiroxima e Nagasaki, a ameaça da bomba atômica
paira na cabeça dos jovens. Com o sentimento de insatisfação que isso provoca,
eles começam a questionar os valores de seus pais.
Muitos deles,
principalmente nos Estados Unidos, se recusam a dar continuidade a um estilo de
vida que consideram medíocre e superficial.
Ao contrário de se
enquadrar nos papéis determinados pela sociedade, estavam dispostos a buscar
uma verdadeira liberdade, com emoções diferentes e novas sensações.
Surge a Geração
Beat, composta de jovens intelectuais americanos que, em meados dos anos 50,
resolvem – regados a jazz, drogas, sexo livre e pé-na-estrada – fazer sua
própria revolução cultural através da literatura.
Os beatniks
produziram livros de poesia e prosa com uma marca muito própria. Eram,
essencialmente, contestadores do sistema americano, aquele que ficou conhecido
como American Way of Life e que os EUA exportam para todo o planeta.
O rock’n’roll é uma
novidade que libera toda essa juventude do conformismo. Imoralidade, luxúria,
sexualidade desenfreada, estas palavras enchiam as manchetes dos jornais.
O novo ritmo
incentivou o comportamento rebelde em relação à sociedade, um comportamento
ofensivo para os conservadores. Os jovens não perdiam tempo no momento em que
seus hormônios fervilhavam.
O rock’n’roll se
expande. Quando Elvis Presley rebolava os quadris sensualmente, e a TV da época
só podia mostrá-lo da cintura para cima, era sinal de que a revolução sexual
estava começando.
Os beats abriram
essa porta e a geração seguinte fez muito sexo ao som de Jimmi Hendrix ou com a
voz rouca de Janis Joplin ao fundo.
Mas essa mudança só
foi possível porque o desenvolvimento tecnológico permitiu que um novo produto
chegasse ao mercado.
A pílula
anticoncepcional é a principal responsável pela mudança radical. de
comportamento amoroso e sexual observado a partir dos anos 60 . O sexo foi
definitivamente dissociado da procriação e aliado ao prazer. As mulheres se libertaram
da angústia da maternidade indesejada.
Essa geração foi a
primeira a colocar em questão a tradição do amor romântico, passivamente aceita
por todas as gerações anteriores.
A descoberta da
possibilidade de se amar várias pessoas ao mesmo tempo e ter uma vida afetiva
mais rica, mais diversificada, foi a grande revelação. Todo mundo podia transar
com todo mundo.
Como o renascimento
dos séculos 15 e 16, a contracultura das décadas de 1960/70 alterou as
correlações de força na sociedade, desfez preconceitos, ridicularizou falsos
poderes, legitimou movimentos que surgiam e criou novos paradigmas culturais
que vieram para ficar, como o modo de vestir, fazer arte e se relacionar.
Os movimentos
Hippie, Gay, Feminista e o Black Power surgiram desse renascimento, todos
explodindo em maio de 68 como um tsunami de ideias.
No momento, estamos
no meio de um processo de profunda mudança das mentalidades. É bem possível que
daqui a 20 ou 30 anos o amor e o sexo sejam vividos de forma totalmente
diferentes da que vivemos atualmente.
Mas os sinais das
mudanças estão aí. O relato do internauta é apenas mais um exemplo disso.
SOBRE A AUTORA
Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 11
livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama
na Varanda” e “O Livro do Amor”. Atende em consultório particular há 42 anos e
realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa
“Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no
programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.
http://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/2016/11/26/transformacoes-na-vida-amorosa/
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